MORADORES DE TCHISSANDJI CONFIRMAM PROPRIEDADES AFRODISÍACAS DO LONGUESSO

O pequeno grão conhecido por longuesso, segundo relatos dos principais consumidores, é um alimento com múltiplas vitaminas, utilizado desde a ancestralidade. É extraído na aldeia de Tchissandji, município do Bailundo, na província do Huambo.
A geração actual aprendeu a extrair e consumir o produto com os pais, que por sua vez herdaram a prática dos seus ancestrais.
O Jornal de Angola deslocou-se ao berço do Longuesso, a aldeia de Tchissandji, jurisdição da ombala Tchipuli, a 14 quilómetros da vila municipal do Bailundo, arredores da Missão Católica da Hanga, única localidade que, até hoje, está comprovada como produtora deste alimento no país, tido como um afrodisíaco natural.
Os relatos no campo de exploração dão conta de depoimentos de senhoras da aldeia que estão sempre bem dispostas, e, em cada amanhecer, a carregar as enxadas, para explorar o alimento. O objectivo não é apenas a comercialização, mas, também, reservar umas doses para consumo, a fim de os maridos terem a capacidade de atender condignamente as parceiras, no domínio sexual.
A planta do longuesso é uma espécie de erva, que germina a partir de um pequeno tubérculo. A planta começa a crescer depois das primeiras chuvas do ano, até atingir uma altura máxima de 20 centímetros, criando um pequeno grão do tamanho de uma ervilha que, ao longo do tempo seco, seca igualmente as folhas, dando lugar ao seu amadurecimento.
Capital do longuesso
O regedor daquela comunidade, Firmino Tchivangue, baptizou a aldeia Tchissandji como “capital do longuesso”. A autoridade tradicional revelou que o consumo do produto não é uma prática recente, mas, sim, desde os tempos ancestrais.
“Os mais velhos já usavam esse alimento e sabiam que tinha muitos benefícios, por isso aconselhavam o seu consumo”, referiu Firmino Tchivangue.
O líder comunitário, que hoje está com 67 anos de idade, referiu que, quando nasceu, a localidade já fazia o uso do longuesso. Ele cresceu e envelheceu nesse ambiente, considerando normal o consumo daquele alimento na região.
“Para os homens, o produto serve como um estimulante sexual natural, comprovado”, sublinhou Firmino Tchivangue.
O regedor conta que, na aldeia, são vários os exemplos de casais que viviam em conflito, devido ao fraco desempenho sexual dos maridos, situações ultrapassadas com a ajuda daquele grão. “Pelo menos, por estas razões, as brigas nos lares deixaram de existir”, disse.
O regedor explicou que o longuesso pode ser consumido mastigando-o ou triturando o grão e transformando-o em pó e ser cozinhado em forma de papa. Nos últimos tempos, a forma de preparação tem variado muito, chegando ao ponto de ser transformado em sumo.
Ouro de Tchissandji
O soba da aldeia, Tomás Máquina, considerou o longuesso o “ouro de Tchissandji”, defendendo a alteração dos preços de venda do produto, no sentido de equilibrar o seu valor.
“Estamos a ser sustentados pela natureza, através deste alimento descoberto pelos mais velhos na antiguidade, porque a colheita de milho pode ser fraca, mas o longuesso consegue repor ou substituir as perdas resultantes da baixa produção do cereal”, disse.
Tomás Máquina conta que a colheita é feita pelas mulheres, bastando para o efeito entrarem na “tchisselenguele”, campos onde buscam o grão, recolhendo certas quantidades que suportam a reposição da cesta básica, vestuário, podendo, até, com a venda do longuesso, comprar-se móveis.
Entre outros benefícios, é mencionado que o longuesso funciona também como desparasitante, aumenta o leite materno e a sua qualidade. É, igualmente, um cicatrizante e o chá extraído das suas folhas verdes funciona como analgésico para a dor de cabeça e das articulações.
Papa de longuesso
O coordenador da Comissão de Moradores da aldeia de Tchissandji, Justino Soma, revelou que desde o tempo colonial já se falava do longuesso e, durante o conflito armado, muitas mulheres davam papa de longuesso aos seus filhos, por falta de fuba.
Na época, referiu, as mulheres, depois de cavar o grão, moíam num almofariz, até se tornar em pó. O produto era colocado na água e este líquido era fervido até ganhar uma forma concentrada para a nutrição das crianças. “A iniciativa salvou a vida de muitas pessoas”.
Actualmente, a colheita de longuesso é uma actividade generalizada na comunidade. O produto passou a ser fonte de renda de muitas famílias, apesar da colheita envolver um esforço enorme, devido à excessiva poeira que faz.
Processo de colheita
Laurinda Cassova, moradora de Tchissandji, disse que o processo que envolve a colheita do produto é trabalhoso e requer sacrifício, coragem e determinação. “É necessário cavar a terra “okukulutula”, peneirar toda a areia com um cesto “ekwalu” e, daí, extrair grão a grão. Estes saem presos aos restos de capim e pedrinhas”.
O processo termina no rio, com o trabalho de higienização, para subtrair os grãos em mau estado, a areia e o capim. Uma das formas de retirar os excessos passa pela colocação dos grãos a flutuar na água, com o apoio de bacias, o que, na língua Umbundo, é chamado de “ohendjo ou tchafuva”.
A exploradora do longuesso explicou que os grãos mais pesados são os saudáveis, próprios para o consumo, ao passo que para os que afundam, passam por um processo mais demorado de higienização até ganharem a cor castanha, e, desta forma, ficarem livres das porções de areia. “É muito cansativo”, sublinhou.
Após a higienização, segue-se o processo de seca dos bagos, porque não se guardam húmidos, sob pena de voltarem a germinar, retirando a qualidade ao produto.
A lavagem é, também, importante para garantir a conservação, porque se for guardado sujo, existe maior probabilidade de se deteriorar.
“Por causa do sacrifício e sofrimento da exploração, queremos que o preço seja elevado, porque, nos últimos dias, para se conseguir meio quilograma, requer muita força, pois, nesta época seca, o terreno está muito rijo”, disse.
Laurinda Cassova revelou que a actividade de exploração do grão é rentável, sobretudo nos meses de Fevereiro e Março, em que os campos ainda não foram explorados e cada pessoa pode conseguir até 30 quilogramas por dia. Pelo contrário, nesta época, consegue-se apenas até dois quilogramas.
Cestos para peneira
O fabricante dos cestos que servem de peneira, segundo Laurinda Cassova, é um morador da aldeia. Por cada unidade, cobra mil kwanzas. O instrumento é bastante procurado pelas mulheres, uma vez que a comunidade inteira exerce essa actividade, cujo produto escasseia de quando em vez.
O Jornal de Angola não teve a oportunidade de falar com o artesão, porque foi à procura da matéria-prima para a fabricação dos cestos, o “olondeia”, conhecido como capim elefante.
Actividade exercida por mulheres
As mulheres estão em maior número entre os exploradores de longuesso, muitas delas acompanhadas por crianças. Laurinda Natchipa informou que a actividade de cavar o produto não é feita durante todo o ano, começa no mês de Fevereiro ou Março, com o cessar das chuvas, até Agosto ou Setembro. Quando a terra fica mais húmida o processo fica mais difícil.
A aldeã considera que a “operação longuesso” um passatempo lucrativo, pois, é feito depois da actividade agrícola.
Depois da escavação, as mulheres não precisam ir ao mercado, porque os compradores caçam o produto na aldeia com os preços já pré-estabelecidos. Para ver melhor os ganhos, a interlocutora tem acumulado a produção de cada mês, para vender de uma só vez e ter mais lucro.
Laurinda Natchipa conta que, no princípio, cada mês arrecadava mais de 100 quilogramas, mas, nos últimos dias, consegue menos de 40.
Excesso de poeira
Laurinda Natchipa lamentou as condições precárias de trabalho que as exploradoras do longuesso enfrentam todos os dias. “Inalamos muita poeira e isso provoca muitos problemas de saúde, como gripes e dor do peito, por falta de máscaras faciais.
A fonte reconhece os riscos que correm por trabalharem sem qualquer protecção. “Teremos consequências graves de saúde. Muitas mães carregam os seus filhos às costas, expondo-os à poeira”, disse.
Segredo da fertilidade
João Grilo Binji, outro morador da aldeia Tchissandji, revelou que o longuesso proporciona uma grande capacidade reprodutiva ao homem. Prova disso, afirmou, é a alta densidade populacional na comunidade.
Com 62 anos, João Grilo Binji disse que tem 16 filhos com a mesma esposa, todos saudáveis e nenhum deles é gémeo. Revelou que o segredo de tanta fertilidade é o consumo do “precioso alimento que abunda na aldeia”.
Segundo João Grilo Binji, na aldeia, são poucas as famílias com menos de oito filhos, tirando os recém-casados. “Nas escolas, as salas de aula estão sempre cheias, porque poucas famílias podem preencher uma sala de 36 alunos”, sublinhou.
Papel das autoridades tradicionais
O presidente do tribunal costumeiro e conselheiro do rei do Bailundo Tchongolola Tchongonga Ekukui VI, Ngambole Kavili referiu que a terra onde é explorado o longuesso é propriedade da Ombala Mbalundu e o reino permite a sua exploração, para que as famílias encontrem novas fontes de subsistência.
O alimento, disse, constitui uma marca incentivada pela Ombala Mbalundu, porque, “se hoje o longuesso tem a fama reconhecida em todo o país é graças ao envolvimento directo das autoridades tradicionais, que têm divulgado o seu conhecimento ancestral”.
O chefe tradicional apelou os aldeões a evitarem queimadas anárquicas das florestas, porque isso pode inibir a multiplicação do longuesso nos próximos tempos, considerando que a preservação do produto deve ser interesse de todos. “O longuesso é uma das grandezas da Ombala Mbalundu, do município do Bailundo, da província do Huambo e do país em si”, concluiu.
Caça ao longuesso
Luzia Somapi, residente no Bailundo, percorre todos os dias 14 quilómetros até à aldeia de Tchissandji, para comprar o longuesso, que comercializa no mercado da vila. O trajecto de motorizada custa-lhe 1.500 kwanzas, ida e volta.
A vendedora revelou que iniciou a comercialização do grão em 2017. Naquela altura, o quilo de longuesso era comercializado a 100 kwanzas.
“Actualmente, a partir da fonte, o kilo custa 1.500 kwanzas. Na vila do Bailundo nós vendemos a 2.200 kwanzas. Mesmo assim, outras pessoas compram para revender noutros pontos da província e em Luanda”, disse.
Nos últimos dias, prosseguiu, o produto escasseia a partir do mês de Maio. Diariamente consegue-se apenas perto de 150 quilos, e desde o final de Julho consegue adquirir apenas 40 quilos por dia.
Uma tonelada armazenada
Marta Luís, vendedora de longueso no mercado informal da Alemanha, na cidade do Huambo, disse que este é o seu negócio habitual, uma vez que já conseguiu armazenar mais de uma tonelada do produto em casa.
Para conseguir angariar tanta quantidade, faz digressão ao Bailundo, onde fica mais de uma semana para comprar o produto, com fontes já bem estabelecidas. Depois de adquirir as quantidades desejadas, regressa à cidade do Huambo para assegurar as vendas, como fornecedora, a clientes provenientes de diferentes pontos da província e do país.
A empresária não revelou a estratégia que usa para a conservação do produto. Apesar de ter sempre o longuesso armazenado em casa. “Tenho sempre o longuesso reservado para vender em qualquer época do ano e posso guardar por cinco meses sem se deteriorar e continua fresquinho”, assegurou.
O Jornal de Angola constatou que, actualmente, o preço do quilograma de longuesso na cidade do Huambo varia entre 2.500 e 2.800 kwanzas. Apesar desse valor, a procura continua em alta.
Sumo de longuesso servido em restaurante
O consumo do longuesso e seus derivados deixou de ser um tabu, porque existem vários locais que transformam o grão em bebida saudável e concorrida.
O exemplo vem do bairro Bomba Baixa, arredores da cidade do Huambo, onde está localizado o restaurante “Vaketu food”, que tem o sumo do longuesso no seu menu diário.
Segundo Osvaldo António Sojamba, funcionário do espaço, o sumo do longuesso é bastante procurado, uma vez que recebem muitas encomendas.
O produto, segundo referiu, é comprado no município do Bailundo, em grandes quantidades.
Antes de se fazer o sumo, contou, o longuesso é rigorosamente escolhido para se retirar a areia e o lixo e, depois, é cuidadosamente lavado e, em seguida, é triturado no liquidificador.
Depois de se extrair a polpa do longuesso, faz-se uma mistura de limão e gengibre, para garantir uma bebida pronta para ser consumida e o cliente decide se toma com açúcar ou com mel.
“Geralmente, a casa aconselha a tomar com o mel por ter mais propriedades”, disse Osvaldo António Sojamba.
No restaurante, o copo de sumo de longuesso é comercializado a mil kwanzas e o litro a 4 mil. Referiu, igualmente, que o local transforma, semanalmente, cerca de 30 kilogramas em sumo, sublinhando que, nos últimos tempos, o produto está a ser muito apreciado.
Professor do ISCED defende mais investigação
O investigador e professor universitário do Instituto Superior das Ciências de Educação ISCED-Huambo, Juarez Manico, apontou o longuesso como um vegetal típico da região do Bailundo e no ponto de vista científico é conhecido como Cyperus rotundus, é uma planta herbácea cyperac da família psoriase, distribuído em vários pontos do mundo.
O docente confirmou que a planta é usada, há vários séculos, pela medicina tradicional. Na província do Huambo, disse, os pesquisadores estão a fazer uma investigação mais aprofundada, para melhor conhecer as suas propriedades organoléticas, uma vez que, do ponto de vista científico, pouco se domina sobre as vantagens e desvantagens.
O investigador defendeu que se pesquise mais sobre o alimento, para que se saiba todas as suas propriedades químicas, por ser um produto altamente consumido pela comunidade, ao mesmo tempo que a Academia precisa de dar resposta às inquietações que se levantam à volta do longuesso.
Para tal, informou que o ISCED-Huambo, por intermédio da sua Academia de Investigação, está a procurar dar resposta a essas inquietações, uma vez que, em 2021, já se levou este material em laboratórios internacionais, onde os primeiros resultados atestam a qualidade do produto, segundo dados revelados.
Os laboratórios revelaram que o produto tem propriedades como o terpenos, alcaloides, flavonoides, ácidos fenolíticos, óleos essenciais compostos como super óleo rotundona, que são elementos essenciais no domínio nutricional.
As amostras revelaram que as características como o formato, o aroma, o sabor agridoce, firmeza, frescura, a crocância e possui grande potencialidade na culinária local, onde pode ser consumido como aperitivo, sumo e de outras formas.
Contudo, o investigador adiantou que as pesquisas científicas em torno desse alimento continuam e haverá mais elementos, principalmente sobre o metabolismo e algumas actividades biológicas e a potencialidade farmacológica.
“Ele é composto por biótipos que devem ser mais estudados do ponto de vista farmacêutico”, argumentou.
O docente apelou que à população do Huambo, de forma especial a do Bailundo, a tudo fazer para preservar o produto.
“Huambo é abençoado por ter um alimento único no país”
O naturopata biomédico Adelino Sandambongo disse que a província do Huambo é abençoada por ter um alimento único no país. É muito nutritivo, um anti-inflamatório por excelência, anti-diabético e anti-bacteriano, revelou.
Usado de uma maneira regrada, acrescentou, o longuesso ajuda os homens a produzir maior nível de testosterona, que auxilia na produção de espermatozóides e activa a actividade sexual para aquelas pessoas com baixo rendimento.
Para além de auxiliar a produção, segundo o especialista, o longuesso também melhora a qualidade dos espermatozóides, dando solução a muitos problemas de infertilidade.
O naturopata referiu que o grão é um grande estimulador do aparecimento e dá melhor qualidade ao leite materno, por isso aconselha as mães que estejam a amamentar a consumirem o longuesso durante esse período, para que garantam um aleitamento seguro e saudável, para que os filhos cresçam munidos de vitaminas.
“O longuesso é um produto aleitado, que pode ser usado para sumos naturais, mascado ou para batidos”, sublinhou.
O consumo do alimento, aconselhou, deve ser feito com uma dosagem certa, orientada por um especialista. “Não é só comer quantidades exageradas com o objectivo de resolver o problema imediatamente”, alertou.
“Muitos procuram pela medicina natural e dizem que já comeram mais de cinco quilogramas de longuesso e não tiveram resultados no problema de infertilidade. Devem saber que a infertilidade tem muitos agentes causadores, por isso, é necessário dominar em que momento deve ser importante a intervenção do longuesso”, apelou.
Adelino Sandambongo afirmou que está comprovado cientificamente que o longuesso ajuda a resolver muitos problemas de impotência sexual e infertilidade nos homens e continua a dar bons resultados.
O especialista apelou às vendedoras do longuesso no mercado informal a conservarem o produto num lugar bem organizado, higienizado e não expô-lo ao sol, para não perder as propriedades.