SENINHO O ÚNICO ANGOLANO QUE JOGOU COM O BRASILEIRO PELÉ

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A vida de Arsénio Rodrigues Jardim, aliás Seninho dava um filme. Nascido em Angola na cidade de Sá da Bandeira (hoje Lubango) a 1 de Julho de 1949 e chega a Portugal aos 20 anos de idade para jogar no FC Porto.

Chamavam-lhe o Fórmula 1 porque fazia os 100 metros em 10,8 segundos, aliando a velocidade a uma técnica acima da média. Antes disso, em 1971 cumpre serviço militar e é destacado para a Guerra do Ultramar. Passou dois anos e 59 dias na Guerra como enfermeiro e uma das memórias mais dolorosas foi ter estado oito meses isolado no meio do mato, perto da Zâmbia.

Mesmo assim, ainda jogou no Futebol Clube Moxico, e foi campeão angolano, em 1973 – ao lado de Chico Gordo, outra estrela angolana, primeira bota de ouro do campeonato de Angola à época e   que mais tarde marcou golos que ficaram para história do FC do Porto e do Sporting Clube de Braga.

Seninho, porém, só volta a Portugal e ao FC Porto em 1974. Para jogar e espalhar classe pelos relvados. Até que um dia, a 2 de Novembro de 1977, a sua vida mudou para sempre no jogo da segunda eliminatória da Taça das Taças, entre o Porto e o Manchester United.

Em Old Trafford, os ingleses dominaram a partida por completo e marcaram 5 golos, mas não conseguiram seguir em frente porque Seninho, com a sua velocidade marcou por duas vezes e colocou o F.C. Porto na eliminatória seguinte. Recorde-se que no jogo da primeira-mão, o estádio das Antas assistiu a uma das mais brilhantes exibições da equipa “azul e branca”, com o resultado final a ser uma vitória por 4-0 sobre os ingleses.

Nas bancadas estavam dois técnicos do clube norte-americano com o objectivo de observar a maior estrela dos portistas na altura, que era António Oliveira. Mas acabaram por ficar fascinados com Seninho. Na manhã seguinte ao jogo de Manchester, Seninho tomou o pequeno-almoço e foi ao encontro do moçambicano Abdul Zubaida, o seu empresário. Na mesa estava um emissário do Cosmos de Nova Iorque com um contrato de 20 mil contos (cerca de 100 mil dólares) para três anos. Um valor irrecusável em 1977. Para trás, ficou o interesse de Real Madrid, Atlético Madrid, AC Milan e do próprio Manchester United. O Cosmos esperava a resposta do jovem do Lubango, mas o FC Porto demorava a dar a autorização para a transferência.

Um dia, Seninho recebeu um telefonema. Do outro lado da linha era Pelé, nessa altura ainda jogador do Cosmos, mas a funcionar também como uma espécie de “manager”. “Seninho estamos à tua espera. Qual é o problema? Se for preciso, falo com alguém do FC Porto”, disse o astro brasileiro. O problema foi resolvido. Seninho assinou por três anos pelo Cosmos.

Quando chegou ao clube americano, em Setembro de 1978, foi recebido como uma verdadeira estrela.

O estádio dos New York Giants, com 76 mil pessoas, estava sempre esgotado. Já havia ecrãs gigantes, cheerleaders, animações antes do jogo e ao intervalo.

A apresentação dos jogadores era uma coisa de cinema. O Pelé, por exemplo, chegava de helicóptero. No primeiro ano viveu em Manhattan, perto da Broadway. Depois arranjou casa perto do estádio dos Giants, no mesmo empreendimento que os companheiros de equipa – paraguaios Cabanas e Romerito e os holandeses Cruyff, Rijsbergen e Neeskens. O brasileiro Pelé e o alemão Beckenbauer moravam perto de Central Park.

Fora dos relvados, o plantel encontrava-se bastantes vezes em eventos sociais, como no lançamento do filme “Rocky 2”. Nesse dia, o angolano conheceu outra estrela, desta vez do mundo do cinema – viu o filme e foi apresentado a Sylvester Stallone. Uma história de vida inesquecível.

O Palmarés de Seninho

Enquanto esteve em terras angolanas, jogou no FC do Moxico, onde se sagrou campeão de Angola em 1973. Em 1974 voltou a Europa e ao F.C. Porto. Venceu a Taça de Portugal em 1976/77, e o Campeonato de 1977/78, conquistado 19 anos depois do último título portista.

No Cosmos, ganhou três campeonatos e várias Taças. O Cosmos vencia quase sempre. Arrastava multidões para os estádios e convenciam milhões de jovens a descobrir o “soccer”. Mais tarde, o angolano assinou pelo Chicago Sting por dois anos, sagrando-se também campeão na sua última época como futebolista.

Arsénio Rodrigues Jardim morreu a 4 de Julho de 2020, aos 71 anos, no Hospital de São João, na cidade do Porto(Portugal).

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