ANDRÉ VENTURA: O MOISÉS QUE CHEGOU… 500 ANOS ATRASADO – DENÍLSON DURO

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Ah, lá vem o iluminado André Ventura, pronto para vestir a túnica de Moisés e guiar Angola fora do “domínio opressor do MPLA”. Que gesto nobre! Afinal, nada diz “salvador da pátria” como vir de Lisboa ditar o destino de trinta e cinco milhões de angolanos. E, claro, como todo bom herói ocidental, ele já tem o plano: invocar o Artigo 4.º do Tratado do Atlântico Norte, trazer a NATO e fazer uma intervenção humanitária à moda de 2011, como na Líbia.

Só que, meu caro André, convém informar que a sua “missão divina” já está um bocadinho atrasada… tipo, uns 500 anos atrasada. Angola não é um museu à espera de turistas coloniais modernos para corrigir a história. A pilhagem da riqueza africana, essa velha arte que tão bem conhece, já tem concorrentes internacionais bem instalados: a China já tem estradas, portos e aeroportos; os EUA brincam com contratos petrolíferos; a Rússia… bem, a Rússia já está sentada à mesa com a sua vodka. Não haverá tempo, nem espaço, para mais um salvador de última hora.

E, sim, Ventura, a sua chance de “intervir heroicamente” passou há muito. A civilização global, e não nós, já dividiu os nossos diamantes, petróleo e contas bancárias. Mas calma, ainda há algo que pode fazer pelo nosso povo: em vez de sonhar com bombas e discursos moralistas, podia começar por devolver os milhões que já desviaram por aí. Isso sim seria uma intervenção digna. Mas não, lá vem o teatrinho do Moisés português, pronto a salvar um país que não precisa de salvação por decreto estrangeiro.

Portanto, querido Ventura, fique com os nossos dinheiros desviados aí em Portugal, na Europa ou onde for. Guarde bem, porque o povo angolano prefere viver e governar-se sem guerras, ocupações ou fingimentos de humanitarismo tardio. O resto… são apenas ecos do colonialismo moderno, rindo-se da nossa paciência e da sua audácia.

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