ANGOLA PRECISA DE UM “MONDLANE”? O PAPEL DA OPOSIÇÃO NA BUSCA PELA ALTERNÂNCIA DE PODER

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A oposição em Angola, liderada pela UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola), enfrenta crescentes críticas por sua postura após as eleições gerais de 2022. O partido tem sido desafiado por setores da sociedade, especialmente jovens, que pedem uma abordagem mais combativa, inspirada no exemplo de Venâncio Melan, figura de destaque nas recentes eleições de Moçambique.

Em entrevista à DW África, Nelito Ekuikui, deputado e secretário-geral da juventude da UNITA, falou sobre a estratégia do partido e a comparação com a luta política em Moçambique.

Críticas e o legado de 2022

Ekuikui reconheceu as críticas vindas da sociedade, especialmente após a decisão da UNITA de evitar manifestações de rua para contestar os resultados das eleições. Ele defendeu a postura do partido como uma forma de preservar a paz e evitar o derramamento de sangue. “UNITA organizou várias manifestações em 2021 e 2022, mas infelizmente, isso resultou em feridos e mortes. Era necessário evitar mais perdas humanas,” disse o parlamentar.

Ele também enfatizou que a UNITA busca um equilíbrio entre manter a estabilidade e garantir os direitos democráticos dos cidadãos. “A UNITA tomou uma posição prudente, apesar das críticas, e continuará a lutar pela alternância de poder dentro do quadro democrático.”

O exemplo de Moçambique

Comparando a situação em Angola com Moçambique, Ekuikui destacou a coragem de Venâncio Melan, que conseguiu mobilizar um vasto apoio popular contra o sistema político estabelecido. “Melan é o verdadeiro vencedor em Moçambique, pois tem o apoio do povo. É uma lição para a oposição em Angola de que a legitimidade deve sempre emanar do povo.”

No entanto, ele ressaltou as diferenças contextuais entre os dois países, apontando para a necessidade de abordagens específicas em cada caso.

O papel das instituições e os desafios do sistema eleitoral

Ekuikui criticou duramente o atual sistema eleitoral angolano, que ele considera dominado pelo partido no poder, o MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola). “Não podemos esperar um processo eleitoral justo enquanto as instituições que o organizam, como a Comissão Nacional Eleitoral e o Tribunal Constitucional, estiverem sob controle direto do MPLA. Precisamos de uma reforma profunda dessas instituições,” afirmou.

Ele também apontou que a liderança do Tribunal Constitucional, sob Laurinda Cardoso, e a composição da Comissão Nacional Eleitoral comprometem a transparência do processo democrático no país.

Crise de legitimidade e os riscos para o futuro

Sobre o descontentamento popular, Ekuikui alertou que a desilusão com o sistema político pode levar a uma radicalização. “Muitos já não acreditam na possibilidade de uma transição pacífica. Isso é perigoso, pois pode arrastar o país para extremos que todos queremos evitar.”

Expectativas para o futuro

Com Angola assumindo a presidência rotativa da União Africana em breve, Ekuikui destacou a necessidade de o país demonstrar autoridade moral e legitimidade interna. “Para liderar a União Africana, Angola precisa primeiro resolver suas crises internas – financeiras, de valores e de autoridade.”

Ele concluiu reafirmando a posição da UNITA como uma força de oposição responsável e comprometida com a paz. No entanto, sugeriu que mudanças estratégicas podem ser necessárias para atender às demandas da população por ações mais contundentes. DW

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