O SONHO EVAPORADO DO GOVERNADOR DOS ANJOS
Existem sonhos que nunca morrem, apenas mudam de endereço. A “Cidade do Sal” é um desses sonhos, nascido da mente visionária do governador Isaac dos Anjos. Na época em que ele governava o Namibe, tive o prazer de assistir à apresentação desse projecto nas Festas do Mar, na marginal do Namíbe. É um espetáculo, tanto pela grandiosidade das ideias do projecto quanto pela empolgação do governador.
A promessa era transformar uma parte do mar do Namibe em um paraíso dos sonhos, com residências dignas de realeza, marinas para barcos de luxo e uma infinidade de lojas e supermercados brilhantes. Tudo o que é lindo e exclusivo para os ricos.
Só faltava mesmo um tapete vermelho para receber as estrelas de Hollywood. Meses depois, o destino, caprichoso como sempre, decidiu que Isaac dos Anjos deveria levar seu sonho para outros ares. Nomeado governador de Benguela, ele partiu levando consigo não só suas malas, mas também o seu projecto querido. E lá estava eu novamente, desta vez na Baía Azul, para testemunhar a reestreia da “Cidade do Sal”, agora renascida nas salinas de Shambombe.
A cerimónia foi tão pomposa quanto a primeira, acompanhada pela então ministra das Pescas, Victoria de Barros Neto, directo res nacionais, províncias e por outros empresários locais. Havia discursos inflamados, promessas cintilantes e, claro, uma nova maquete que brilhava mais que sol em dia de praia. Todos estavam empolgados, a imaginar os iates atracados nas marinas e as mansões que fariam os castelos europeus parecerem cabanas.
Mas, como em muitos contos de fadas, a realidade decidiu ser uma madrasta cruel. O tempo passou, e o sonho de Isaac dos Anjos, agora transformado como ministro da Agricultura e Florestas, nunca saiu do papel. As grandiosas ideias permaneceram aprisionadas em projectos, maquetes e discursos. O governante talvez olhe para trás com um misto de nostalgia e ironia.
Se calhar, já não se lembre destes dois cenários e do projecto, ou que ele ainda acredite que, um dia, as salinas de Benguela e o mar do Namibe abrigarão a tão sonhada Cidade do Sal. Enquanto isso, nós, meros mortais, continuamos a imaginar as marinas cheias de iates e as ruas repletas de mansões que só existem na nossa imaginação.
E assim, o sonho da Cidade do Sal permanece vivo, como uma promessa não cumprida, mas sempre pronta a ser contada em mais uma crónica da vida real. Ao governante, encorajo acreditar e a buscar investidores para que o projecto seja, de facto, uma realidade nesta Angola que todos amamos, também coloco-me à disposição para uma conversa sobre o projecto.