A presença do analfabetismo político em sectores da política africana e angolana, no governo e nos partidos políticos, continua a ser um dos elementos mais inquietantes do nosso tempo. No espaço público, ainda se confundem famílias com instituições, lealdades pessoais com responsabilidade de Estado, e rivalidades privadas com projectos colectivos.

A política, reduzida a impulsos imediatos ou a afectos negativos, perde assim a sua função essencial: pensar a sociedade de forma ampla, multidimensional e orientada para o futuro.

Quando o Congresso Ordinário da UNITA se aproxima, marcado por expectativas de renovação e clarificação estratégica. No MPLA, o futuro Congresso Ordinário surge envolto em debates internos e perceções contraditórias, reflectindo um momento de redefinição nacional. E, no horizonte, as eleições gerais previstas para 2027 prometem fechar um ciclo político denso, onde a possibilidade de alternância democrática traz tanto esperança quanto tensão.

É precisamente nestas fases críticas que mais se nota a diferença entre dois tipos de actores políticos:

* os que operam com uma visão estreita, movidos por paixões, impulsos ou antagonismos simplistas; e

* os que reconhecem a complexidade dos fenómenos políticos, procurando compreendê-los nas suas dimensões política, económica, social, institucional e cultural.

A UNITA e Adalberto Costa Júnior têm procurado afirmar-se neste segundo campo — o da leitura estratégica e multidimensional. Já no MPLA de João Lourenço, intensificam-se percepções públicas de endurecimento político, conflitos internos e disputas discursivas que, para muitos observadores, afastam o país da normalização institucional e da serenidade republicana.

Então, porque é que o minimalismo político é tão perigoso?

É quando um fenómeno nacional é interpretado apenas numa única dimensão — económica, eleitoral, étnica ou emocional — a política torna-se reactiva:

responde a crises, apaga fogos, dramatiza diferenças.

Mas quando é visto multiperspectivamente, a política ganha capacidade de:

* criar soluções, e não apenas responder a problemas;

* antecipar desafios, em vez de se deixar surpreender por eles;

* abrir espaço a novas oportunidades, e não repetir velhos ciclos de conflito.

É este olhar amplo que assusta os “analfabetos políticos”: a capacidade de certas lideranças compreenderem que o país é mais do que facções, mais do que disputas internas, mais do que a lógica “nós contra eles”.

O meu medo maior não é a alternância. Não é o debate. Não é o conflito saudável de ideias.

O meu medo maior é o regresso do pensamento raso, que reduz a política a manobras de bastidor, a confrontos pessoais ou a leituras maniqueístas do país e dos partidos políticos.

Num tempo em que Angola precisa de:

* reconstituir instituições;

* reforçar a confiança pública;

* repensar o seu modelo económico; e

* reconstruir o seu pacto social.

O risco está em entregar estas tarefas complexas a quem só sabe trabalhar com simplificações, impulsos e antagonismos.

A política angolana precisa de líderes capazes de ver o que não é evidente, ligar o que é separado, interpretar o que é contraditório e agir não apenas com força, mas com inteligência estratégica como o faz Adalberto Costa Júnior.

Se a leitura dos fenómenos for pobre, repetiremos a história.

Se for profunda, abriremos futuro.

Que os próximos meses e anos nos permitam escolher entre estas duas vias — e salvar o país do minimalismo que já lhe custou demasiado.

OBRIGADO!

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