PRESIDENTE JOÃO LOURENÇO DEFENDE MAIS INVESTIMENTO NAS INFRA-ESTRUTURAS EM ÁFRICA

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O Presidente da União Africana, João Lourenço, destacou, ontem, em Brasília, a necessidade de mais investimentos em infra-estruturas para garantir o desenvolvimento sustentável do continente. Ao discursar na reunião com o grupo de embaixadores africanos acreditados no Brasil, João Lourenço referiu que o desenvolvimento é um dos desafios que o continente enfrenta e que tem ligação com a situação de paz e de segurança.

No encontro, que marcou a última actividade da sua estada em Brasília, no quadro de uma visita oficial de três dias, a convite do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Chefe de Estado de Angola e líder da União Africana disse que o desenvolvimento acontece mais facilmente onde há paz e segurança.

De acordo com o Presidente João Lourenço, “o investimento é alérgico ao conflito e onde há conflito o investimento não surge”, pois as duas coisas têm de seguir em paralelo. “Ao mesmo tempo que combatemos as guerras, os conflitos, temos, também, de cuidar do desenvolvimento em todo o nosso continente”, realçou.

O Chefe de Estado angolano deu a conhecer os esforços empreendidos na captação de investimentos para o desenvolvimento do continente, destacando o encontro, em Luanda, entre a AUDA-NEPAD e a Aliança das Instituições Financeiras de Crédito Africanas.

O encontro foi considerado bastante valioso, uma vez que conseguiu, pela primeira vez, juntar numa única reunião as diferentes instituições financeiras de crédito africanas, que saíram de Luanda com a missão de ajudarem a liderança da União Africana a mobilizar recursos financeiros para a realização de investimentos em infra-estruturas rodoviárias, ferroviárias, portuárias, aeroportuárias, de produção de energia e água, de transportação de energia e de telecomunicações, de modo a garantir que o continente possa ter um desenvolvimento sustentável.

O Presidente angolano e da União Africana ressaltou a importância da facilitação na mobilidade, mediante a construção de infra-estruturas que permitam interligar os vários países africanos e da necessidade de industrialização do continente.

O facto de o continente ter os maiores rios justifica, segundo o Chefe de Estado, maior aposta neste sector, através da construção de barragens hidroeléctricas para a produção de energia suficiente para o continente e linhas de transportação para levar a energia produzida para as zonas de consumo dos países que necessitam dela.

A falta de recursos foi apontada como um dos grandes desafios para a materialização destas iniciativas, daí a necessidade de mais investimentos.

“A existência de energia eléctrica suficiente alimenta o sonho em industrializar o continente, em transformar as matérias-primas, acrescentar valor, dar emprego aos cidadãos, sobretudo aos nossos jovens. Desta forma evitar-se-iam cenários tristes “que todos os dias vemos dos nossos jovens a morrerem no Mediterrâneo, à procura do paraíso na Europa, onde, na maioria dos casos, não chegam”, referiu.

João Lourenço recordou o lema deste ano da União Africana, que é “Justiça para os africanos e afrodescendentes através das reparações” e referiu-se à cimeira, uma primeira, de cúpula, que uniu os países do continente africano com os do Caribe, que serviu como base para uma outra, para materializar esta máxima de justiça para os africanos e afrodescendentes, através de reparações.

Outros desafios

O Presidente João Lourenço disse que o desafio dos conflitos continuam presentes e, em vez de reduzirem, assiste-se o surgimento de outros novos no continente.

“Quando estamos há apenas cinco anos da data em que supostamente deveríamos ver silenciadas as armas, portanto, 2030, ao invés de vermos a redução das guerras e dos conflitos armados, no nosso continente, antes, pelo contrário, o que temos vindo a assistir ultimamente é precisamente o surgimento de novas guerras e novos conflitos no nosso continente”, lamentou.

Segundo disse, há uns anos, quando se falasse de conflitos em África, olhava-se, sobretudo, para a região do Sahel, onde foram constituídos grupos terroristas que desestabilizavam os países da região. Mas, hoje, olha-se, também, para a preocupação das mudanças inconstitucionais de regime.

João Lourenço exemplificou os casos do Leste da República Democrática do Congo, onde sempre proliferaram forças negativas, mas que acabaram por culminar com o confronto quase directo entre países vizinhos, nomeadamente entre a RDC e o Rwanda; o Sudão e o Sudão do Sul, onde a paz é bastante frágil e que, de quando em quando, vai pregando alguns sustos; e Moçambique que conhece uma situação de terrorismo, de instabilidade em parte do seu território, nomeadamente na província de Cabo Delgado.

João Lourenço disse que uma das grandes responsabilidades da União Africana é trabalhar no sentido de efectivamente conseguir alcançar o objectivo do calar das armas em todo o continente.

“Vamos trabalhar arduamente, sem desistência, sem pessimismo, acreditando que a paz definitiva chegará a todas essas regiões, ao Sahel, aos Grandes Lagos, ao Sudão, ao Corno de África, à SADC, nomeadamente em Moçambique e, de uma forma geral, em todo o nosso continente”.

Na reunião, intervieram o embaixador da República dos Camarões e Decano do Grupo
Africano, Martin Mbeng, a embaixadora de Barbados e Decana do Grupo de Embaixadores da Comunidade dos Países do Caribe (CARICOM), Tonika Thompson, e a CEO da AUDA-NEPAD, Nardos Bekele-Thomas.

O encontro marcou o fim da visita oficial de João Louenço ao Brasil, iniciada na quinta-feira com reuniões separadas com o presidente do Senado Federal e do Congresso Nacional, Davi Alcolumbre, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, e com o presidente do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso.

 Assinalado Dia de África

A interacção entre o Presidente João Lourenço e o grupo de diplomatas aconteceu ontem para assinalar o Dia de África.

Na reunião, foi referido o simbolismo de um encontro desta natureza ter lugar num país como o Brasil, que recebeu, no período infame da escravatura, quase cinco milhões de africanos, a sua grande maioria proveniente de Angola.

O encontro com os diplomatas de África e das Caraíbas decorreu em Brasília, à margem da visita de três dias que João Lourenço efectua ao Brasil, a convite do seu homólogo Lula da Silva. Em Brasília, os Chefes de Estado, Luiz Inácio Lula da Silva e João Lourenço testemunharam a assinatura de acordos de cooperação. O Presidente da República compartilhou com a comunidade empresarial as potencialidades da República de Angola para atracção de investimentos.

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