A MÁQUINA DO ÓDIO E ALIENAÇÃO POLÍTICA NAS REDES SOCIAIS: INTOLERÂNCIA POLÍTICA E ASSASSINATO DE CARÁCTER

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A “Máquina do Ódio” ou “Campanha do Ódio” é uma temática pertinente, sugestiva e actual. Aqui trazemos uma abordagem, análise e reflexão sobre esta temática, sendo que para sua melhor compreensão, fazemos recurso à abordagem teórico-conceptual.

Pensamos que a <alienação política> e o <assassinato de carácter> estão subjacentes à “Máquina do Ódio” ou “Campanha de Ódio’. Por essa razão, decidimos discorrer também sobre a <alienação política> e o <assassinato de carácter>,  visto que no nosso xadrez político nacional e intra-partidário, essa questão é constrangedora e patente.

Segundo Barroso (2022: 22), “máquina do ódio ou campanha de ódio é uma acção que visa disseminar informações falsas, calúnia e discursos agressivos contra indivíduos ou grupos,  com o objectivo de desacreditá-los, intimidá-los ou silenciá-los”.

Regra geral, essas campanhas são realizadas nas redes sociais ou noutras plataformas digitais, pela forma rápida (velocidade de propagação) e pelo vasto alcance da informação/desinformação.

A “Máquina do Ódio” ou “Campanha de Ódio” se resume em:

1. Difamação e calúnia: espalhar mentiras e informações distorcidas sobre alguém;

2. Ameaças e intimidação: enviar mensagens ameacadoras para amedrontar e silenciar alguém;

3. Assédio contínuo: realizar ataques contínuo para esgotar emocionalmente pessoas alvo;

4. Desinformação: divulgar notícias falsas ou manipuladas para confundir a opinião pública e confundir percepções.

Para Fagundes (2022), as consequências desses actos não são apenas prejudiciais ao indivíduo (vítima), mas a sociedade de modo geral e a reputação ou a idoneidade dos partidos políticos. Esses ataques têm diversas consequências psicológicas, das quais destacamos: a ansiedade e depressão; estresse pós-traumático; isolamento social e político; perda de autoestima e convicção política; desconfiança e paranóia em circulos sociais e políticos, pois, a pessoa (militante de qualquer partido político ou não) passa a temer por novos ataques ou perseguições.

Em termos de consequências sociais temos a bipolarização social e político-partidária (com a existência e permanência de alas dentro dos partidos políticos); erosão da confiança nas instituições (perde-se a confiança nos decisores políticos); silenciamento de vozes (silencia-se activistas sociais e quebra-se a democracia intra-partidária); desintegração da coesão social e político-partidária (abala-se a unidade nacional, a unidade e coesão intra-partidária) e, a normalização da violência e do ódio (quando se deixa impune os indivíduos que promovem a violência e o ódio na sociedade, nas instituições burocráticas do Estado e no seio dos partidos políticos), tornando-se aceitável e incentivador nalguns círculos sociais e políticos.

A <alienação política> e o <assassinato de carácter> são  duas questões pertinentes,  que estão subjacentes à Máquina do Ódio ou Campanha de Ódio, protagonizadas por militantes de partidos políticos (adversários políticos), mas também e sobretudo no seio dos partidos políticos, entre correligionários!

Temos notado que militantes, amigos e simpatizantes de certos partidos políticos realizam campanhas de ódio nas redes sociais contra militantes, quadros e dirigentes de outros partidos políticos, o que parece ser já uma prática normal entre os angolanos, mesmo sabendo que calúnia e difamação, ameaça e intimidação são crimes previstos e puníveis nos termos da lei.(acabamos sempre por normalizar o anormal)!

A “Maquina do Ódio” ou “Campanha de Ódio” dentro dos partidos políticos é normalmente movida ou realizada por militantes, quadros e dirigentes de tais partidos políticos, com o fito de silenciar, intimidar e alieanar correligionários políticos com potencial ou capital político, que consideram ameaça para suas pretensões e posicionamento dentro do partido. Para isso, tentam silenciar, ofuscar, denegrir, combater e manter afastados das estruturas estratégicas dos partidos (direcção central e estruturas intermédias dos partidos), aqueles correligionários com potencial político e, com os quais os partidos deviam contar para o seu fortalecimento e performance política.

Esse isolamento, silenciamento, intimidação e afastamento tácito de militantes, quadros e dirigentes nos partidos políticos tem contribuído para a desintegração política destes, bem como para a fraca unidade e coesão partidária, registadas no seio dos partidos políticos em Angola, nos últimos 8 anos.

Portanto tanto, além dessa “Máquina do Ódio” ou “Campanha de Ódio” ser na verdade um movimento ou prática criminosa, não contribui para integração social, política e na democratização do país, pois, precisamos promover a paz social, a democracia (participação política dos cidadãos), bem como a democracia intra-partidária,  para melhorar a unidade e coesão na diversidade de opiniões dentro dos partidos políticos. Não é silenciando, intimidando, perseguindo e afastando correligionários políticos, que se vai manter a unidade e coesão intra-partidária, fundamental para o sucesso político de qualquer partido!

“Deve ser dado a cada um pensar o que quiser e falar o que pensa” (Baruch Espinoza). Disso resulta a liberdade de pensamento e a liberdade de expressão a que temos direito, no âmbito dos nossos direitos civis e políticos consagrados na Constituição.

Por: Carlos Joaquim ( Doutorando em Ciências Sociais na Especialidade de Ciência Política; Mestre em Ciência Política e Administração Pública; Pós-graduado em Políticas Públicas e Governação Local; Pós-graduado em Administração Autárquica; Pós-graduado em Direitos Humanos e Cidadania, e Docente universitário)

01/06/2024

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