ELÍSIO MACAMO: “NÓS ESTUDAMOS ÁFRICA PARA ENTENDER O MUNDO”

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O sociólogo moçambicano Elísio Macamo apresentou a sua visão sobre a produção e difusão do conhecimento sobre o continente africano e as sociedades africanas, tendo afirmado que “nós estudamos África para entender o mundo”.

O sociólogo fez essa afirmação na última edição das Conversas da Academia à Quinta-feira, da Academia Angolana de Letras, onde dissertou o tema “Estudos africanos e a ilusão do conhecimento”, sob moderação da crítica literária Inocência Mata, na presença de académicos de Angola, Bélgica, Brasil, Cabo Verde, Moçambique, Senegal, Suíça e Portugal.

O conferencista considera que “o objecto de investigação é uma teoria do conhecimento, que nos permite reconhecer aquilo que podemos saber e como podemos saber”, o que vai determinar os passos a dar nessa direcção.

O Professor Catedrático da Universidade de Basel (na Suíça), Elísio Macamo, questiona a forma como se estuda África pelo mundo, bem como a comum ausência de contacto com obras de autores africanos.

Considera que “os factos não falam por si próprios, mas ligam-nos às coisas que estudamos” e que “estudar África implica utilizar métodos que são portadores de informação que se pode transformar em evidência de alguma coisa”.

Fazendo recurso a factos históricos que são do conhecimento geral, o conhecido sociólogo que ingressou ontem como membro correspondente da Academia refere que uma África pura, ou seja, “a verdadeira África desapareceu com a colonização”, pois desta resultou uma África diferente da que tínhamos antes: “Tudo o que veio depois é sequência também da colonização”.

Por isso, considera que a nossa preocupação epistemológica deriva da ideia histórica: “O mundo poderia ter sido diferente, mas a verdade é que o ontem não vem mais!”

A respeito do conhecimento sobre África, Elísio Macamo está convencido que, em boa verdade, “não existe conhecimento sobre África, pois o que sabemos sobre África não é aquilo que África realmente é, na sua essência”. Para além disso, temos de ter presente o vocabulário que utilizamos para fazer relatos sobre África: “O nosso vocabulário conceptual não é inocente, transporta significados”.

Quanto a alternativas para superar as dificuldades enumeradas, Elísio Macamo considera que a solução é o recurso à metodologia das Ciências Sociais (e da Sociologia em particular), de modo que possamos “colocar coisas estranhas em termos familiares”. Concluiu, dizendo que “nós estudamos África para entender o mundo”.

Na próxima Conversa da Academia à Quinta-feira, agendada para o dia 24 deste mês, às 19h00, sob moderação da crítica literária Inocência Mata, o antropólogo brasileiro da Universidade Estadual Paulista (no Brasil), Dagoberto Fonseca, assinalará o seu ingresso como Membro Correspondente da Academia Angolana de Letras, com a conferência intitulada “Angola e Brasil: irmãos d’além mar”.

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